domingo, 1 de abril de 2018

Sir Charithoughts SPECIAL: Yellow #3

Pokémon Yellow #3

Animigos e redenção
Assim como a série animada, Pocket Monsters Special também é uma mídia que deve acompanhar os lançamentos dos principais jogos Pokémon lançados pela Game Freak. Isso quer dizer que uma das graças de ler esta jornada é ver como Hidenori Kusaka vai adaptar elementos de cada geração em sua trama, portanto é impossível começar a ler Pokémon: Yellow #3 sendo informado de que seu lançamento coincidiu com o de Pokémon Gold & Silver Versions no Japão e não pensar nas influências que os novos jogos devem ter exercido sobre a obra de Kusaka e Mato. A questão é pertinente porque em suas duas sagas iniciais, o autor usou bastante de sua liberdade criativa e contou sua própria história, dando a personagens destinos diferentes daqueles que eles tinham nos jogos - não que os jogos originais tivessem muita ação acontecendo para os personagens de apoio de qualquer forma. A questão é que, por serem sequências de Red & Blue, Pokémon Gold & Silver Versions, o status quo de alguns personagens precisam ser reconfigurados. Um exemplo é Ten. Surge e Sabrina, que retornam como Líderes de Ginásio, enquanto Koga é promovido a Elite dos Quatro e Bruno é o único membro do quarteto original a manter seu status quo. Considerando que os quatro são vilões no mangá, este volume já parece ser o primeiro passo para realinhar a adaptação com sua obra de origem.

Não parece ser coincidência, portanto, a revelação logo no começo deste volume do controle mental que Agatha e Lorelei exercem sobre Bruno. É um primeiro passo para inocentar o personagem e lhe dar um álibi inteiramente válido. Assim como Red, Bruno é um entusiasta por batalhas - que talvez leva seu hobby um pouco a sério demais. Durante a lembrança de sua batalha com o palletiano, Bruno também demonstra ser alguém que se preocupa com a natureza e os Pokémon - assim como seus colegas extremistas. Porém, o roteirista também deixa evidente que ele desenvolve uma afeição e admiração por Red e espera reencontrá-lo. De fato, é uma pena que a batalha entre os dois tenha sido interrompida porque eu estava curtindo demais o confronto.
Outro ponto interessante nesse flashback é que ele também nos revela o porquê de a Elite ter ido atrás de Red: descobrir o paradeiro de Giovanni (porque precisam da Insígnia da Terra) e recrutar o garoto para se aliar a eles (numa Elite dos… Cinco?). Red obviamente recusa e sofre as consequências. Porém, algumas questões ficam no ar: se Agatha e Lorelei podiam controlar Bruno, por que não usaram a mesma tática com Red quando ele recusou se juntar a elas? Será que sua batalha contra Bruno havia lhe provado indigno de tamanho investimento? Ou seria Bruno mais fácil de manipular que o rebelde Treinador? Ou Kusaka simplesmente não pensou nisso?
O vínculo rápido formado entre Red e Bruno durante sua batalha Pokémon serviu como um prenúncio do que ocorreria no restante deste volume: aminizades. Blue, Green e Blaine reencontram os Líderes de Ginásio vilões Sabrina, Ten. Surge e Koga e, no mais clássico estilo "o inimigo do meu inimigo é meu amigo", se unem a eles para combater os novos vilões no que acaba se tornando um verdadeiro caminho de redenção. A justificativa rasa, caricata e desnecessária de "Kanto é nossa e ninguém manda nela se não a gente" é uma péssima tentativa de reafirmá-los como "vilões" uma vez que essa luta devia ser pessoal para qualquer Treinador que está tendo sua cidade atacada pela Elite - como foi no caso do próprio Ten. Surge.
O primeiro passo é oferecer um momento a cada um dos oponentes da batalha na Silph Co. um momento para se redimir. Para isso, entra em efeito as Colheres do Destino - um dos meus conceitos originais do mangá favoritos -, unindo vítimas e agressores! O Koga que não se importou em usar o corpo de Blue e seu Charmeleon contra suas próprias vontades para batalhar Red na Torre Pokémon e posteriormente torturou os dois jovens até quase matá-losagora demonstra vontade de estabelecer um diálogo e admiração por seu companheiro de batalha "forçado". A Sabrina que usou seus poderes Psíquicos para torturar Green psicologicamente agora hesita em cortar o braço de sua companheira de armas para poder enfrentar Lorelei sem dificuldades.
É verdade que poderia ser argumentado que trata-se apenas de alianças feitas com interesse. Koga e Sabrina ambos sabem a importância de se ter Blue e Green ao seu lado para enfrentar a Elite, mas o que dizer de Ten. Surge? O que ele tem a ganhar com Bill, alguém que é visivelmente covarde e não possui Pokémon impressionantes para a batalha? Ainda assim, ele joga conversa fora, faz piada e ainda se importa em estabelecer uma aliança com seu parceiro. Através dessas uniões, Kusaka também decide mostrar o lado bom de cada um dos seus Líderes do mal. Green, Blue e Bill são colocados em posição de vulnerabilidade diante dos adversários e os comandantes Rocket têm a oportunidade perfeita de finalmente serem os anti-heróis que precisam ser.

Confrontos de iguais

O roteirista também aproveita os arquétipos comuns em narrativas infantis japonesas sobre os quais os personagens de Satoshi Tajiri se sustentam e explora de forma inteligente os paralelos existentes entre os Líderes de Ginásio Rocket, os Treinadores de Pallet e a Elite dos Quatro. Koga e Agatha como usuários de Pokémon Venenosos e cheios de truques sujos são um par perfeito para o meticuloso Blue, assim como Lorelei e seus bonecos de gelo formam um obstáculo ideal para Sabrina e Green que amam jogos mentais e a abordagem direta de Bruno combina com Ten. Surge e, é claro, Red.
Com a reunião de tantas personalidades fortes em batalha da saga anterior, já era se esperar combates intensos, cheios de estratégias impossíveis e inteligentes. Enquanto é legal ver Bruno barrando os planos de Red e superando desvantagens de Tipo com seu Onix, a luta que mais chama atenção é aquela de Agatha contra Koga e Blue. Nesse ponto da história, o trio já foi visto batalhando - entre si inclusive - diversas vezes, mas Kusaka ainda é capaz de nos surpreender com novas táticas e ideias originais.
Primeiro há uma mudança de foco dos Pokémon Fantasmas para os Venenosos, algo estimulado pela presença de Koga. Enquanto os jogos da época não permitiam muita customização de Pokémon fora a escolha dos ataques, a luta Arbok VS Arbok já nos mostrava a capacidade individual de cada Pokémon possuir habilidades especais próprias. Enquanto parte de mim acha desnecessário Koga ter um Arbok capaz de regenerar partes decepadas do próprio corpo - talvez um mea-culpa do roteirista por ter colocado o garoto de 10 anos para matar um Pokémon? -, parte de mim adora o fato de cada Arbok ter seu próprio poderzinho especial. Oras, se o de Agatha pode ter o seu padrão mudado por um creminho e assim alterar seus stats, por que o de Koga não poderia crescer uma nova cauda? Mas ao menos o mangá adereçou o lance das marcas do Arbok mencionado na Pokédex e nunca explorado adequadamente em nenhuma outra mídia…
Bruno e Lorelei também ganham espaço para explorarem as estratégias de seus outros Pokémon que não tínhamos visto em ação até então, como Hitmonchan e Jynx. A alternação entre Soco de Fogo e Soco Trovoada que Hitmonchan usa para derrubar Poli, o uso da longa extensão de Onix por Bruno para fazer um ataque a Bulba por trás, o ataque do Gengar de Agatha pelas sombras, a queda do Cloyster de Lorelei para o Megadreno do Venomoth de Sabrina e a combinação entre Autodestruição e Barricada orquestrada por Surge e Bill estão entre meus momentos de batalha favoritos deste arco e que provam que nossos protagonistas realmente foram carta de Apoiador aqui - Blue até derrotou o Golbat de Agatha sozinho, mas nem chegamos a ver.
Em meio a tantos personagens maravilhosos retornando e se juntando, quem realmente ficou sem muito espaço foi ironicamente a própria Yellow, a protagonista-mor desta saga. O movimento é compreensivo e um que promete ser reparado já no próximo volume. Com o retorno de Red e a revelação de que Yellow é uma menina(!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!), o final desta saga promete ser incrível, com a vitoria sobre a Elite dos Quatro e a grande revelação do seu verdadeiro plano para acabar com a humanidade.

Considerações finais:
  • Koga envia a Cura de Paralisante para Blue numa Poké Bola, segurada por seu Ekans. Até Pokémon Yellow: Special Pikachu Edition, era impossível para qualquer Pokémon segurar itens dentro das Bolas nos jogos, algo que só se tornou possível a partir de Gold & Silver; 
  • O meu Pokémon: Gold & Silver #1 já está em mãos e eu estou empolgado para chegar lá, mas ainda tem um Pokémon: Yellow #4 e umas review de Pokémon Sun & Moon no caminho. Desta vez decidi não assinar, mas se você estiver interessado em esperar três meses por uma edição, o link está aqui
  • Neste volume, o navio St. Ana foi chamado de St. Anna, com dois n, mas corrigir a abreviação do St. que é bom… 
  • Isso vai parecer muita implicância, maaaaas em Pokémon Go e no TCG, Onix é o Pokémon Serpente de Pedra. No mangá, ficou Cobra de Pedra. Não é um erro, obviamente, mas achei relevante trazer já que eu fiquei tomando nota de cada categoria em português então por que não botar esse conhecimento em uso pra alguma coisa né? 
  • Finalmente Kusaka nos deu os dados dos Pokémon de Green e Blue ao final deste volume e fiquei feliz que Green tem a Pokédex mais completa dentre seus pares; 
  • Fiquei com dozinha do Horsinha ser pego do jeito que foi pela Lorelei :'( 
  • E fiquei com mais dozinha ainda do chute que o Red levou do Hitmonlee 
  • A gente reclama tanto das incoerências do anime referentes a tipo, mas você tem Professor Carvalho acertando os Pokémon Fantasmas de Agatha com ataques do tipo Normal no flashback dela e no capítulo seguinte, o Porygon de Blue usa o Conversão para virar tipo Fantasma e evitar os ataques físicos do Gengar de Agatha. Quer dizer…
  • Eu queria entender muito a lógica da física por trás de Red conseguir andar de bicicleta de boa nas costas do Onix selvagem acompanhado de um Venusaur! 
  • Não acredito que passei o mês de março todo praticamente sem postagem nova =X nossa, gente, desculpa! Mas já comecei a trabalhar no próximo charithoughts do anime, se serve de consolo…

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