quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Desa-Bafo do Dragão #6: Ultra Falta de Hype

Já ia pra dois anos que eu não lançava um Desa-Bafo do Dragão, minha coluninha iniciada no final de 2014 para reclamar ou expressar minhas preocupações sobre assuntos referentes ao mundo Pokémon. Dos cinco textos lançados, três foram sobre os jogos, sendo o primeiro justamente sobre uma declaração infeliz de Junichi Masuda e o último expressando preocupação sobre uma visível estagnação que a franquia Pokémon parecia enfrentar nesse setor. E aqui estou eu, quase dois anos depois, revivendo o Desa-Bafo do Dragão para falar mais uma vez dos jogos e ambos os textos ainda parecem ser relevantes ainda hoje, em tempos pré-lançamento de Pokémon Ultra Sun & Ultra Moon.

Anunciados mundialmente dia 6 de junho de 2017 como uma surpresa dentro de um vídeo de Pokkén Tournament DX, Pokémon Ultra Sun & Ultra Moon vieram cercados de mistério e surpreenderam a muitos com seu anúncio para lançamento dali a cinco meses. Os fãs que aguardavam ansiosamente por uma terceira versão (o mito precocemente assassinado Pokémon Stars para Switch) ficaram perdidos quando a Nintendo anunciou duas novas versões com uma "outra história". "Como assim? É uma sequência?", perguntavam-se alguns desorientados, enquanto outros tentavam apontar que o texto da Game Freak parecia frisar que tratava-se de uma história paralela e não continuação. As semanas se seguiram e a falta de novidades começavam a incomodar e memes rapidamente surgiram diante do longo silêncio. Afinal, depois de uma geração com campanhas publicitárias todas baseadas em anúncios quase quinzenais de novos Pokémon e/ou Mega Evoluções, como se ajustar a não ouvir o "Pika~ *toca musiquinha de batalha fazendo anúncio*"??? Eles queriam novas formas de Alola, a mítica segunda parte da Pokédex regional e o retorno triunfal dos Ginásios!
Porém, desde que os anúncios finalmente começaram a vir, os fãs têm se debruçado sobre o único assunto possível: afinal, essas "novidades" justificam um novo jogo tão cedo ou não? Elas são mesmo relevantes? O que duas Ultra Beasts e um novo Lycanroc vão fazer valer mais R$150 da minha carteira por essa nova jornada? A situação ficou tão crítica que muitos tomaram sobre si a missão de ilustrar para a população miserável indignada que Ultra Sun & Ultra Moon são sim o crème de la crème que a nação tanto clamou a Arceus, defendendo a todo custo as novidades (ou falta delas) nos anúncios de USUM na tentativa de manter a chama do hype acesa. Um exemplo de argumento muitíssimo bem elaborado e inteligente é esta imagem que viralizou esta semana compartilhada no Twitter por Joe Merrick, o webmaster do ultra popular portal Pokémon Serebii.net.
Nela, uma comparação é feita listando as novidades anunciadas para cada terceira versão/sequência dois meses antes de seu lançamento. A tabela tem como intenção provar por A+B que, diferente do que a população revoltada com falsa novidade clama, USUM já mostrou até mais que seus predecessores haviam mostrado na mesma época anterior à sua divulgação. O problema é que não se trata de uma questão apenas de quantidade de novidades, mas o que elas podem fazer pela experiência do jogo em si. Verdade seja dita, por mais que eu ame a narrativa de Pokémon Sun & Moon e seus personagens e suas cutscenes e sua ambientação, eu não posso negar que o jogo deixa a desejar e MUITO quando se fala em jogabilidade. Sendo ainda mais honesto, jogar Pokémon tem sido uma experiência de altos e baixos bem desequilibrados desde a geração passada e o futuro não parece muito promissor.

Um jogo de Pokémon perfeito pra mim consegue equilibrar bem os seguintes elementos:
  • História envolvente e interessante;
  • Ambientação agradável e coerente;
  • Jogabilidade fluida e divertida;
  • Muitas coisas extras para se fazer com recompensas significativas;
  • Um nível de desafio justo;
  • Modos divertidos de interação entre jogadores;
  • Tarefas extras para se dedicar pós-game;
O triste é que, depois de Black 2 & White 2 nenhum jogo da franquia tem sido capaz de promover tudo isso de forma satisfatória. X & Y foram excelentes na questão de jogabilidade: era uma delícia desfrutar daquele lindo mundo 3D andando de patins, fazer carinho nos Pokémon no Pokémon-Amie, treinar no Super Training, batalhar no Battle Chateau pra ganhar dinheiro e investir no modelito todo francezinho do Treinador. Porém, o jogo estava um pouco fácil demais. A mudança no esquema do Exp. Share ainda é uma das piores ideias já tidas e o jogo não aumentava seu nível de dificuldade para acompanhar o acesso às megaevoluções desde cedo na jornada. Além disso, a história de Kalos é péssima e os personagens tããããão chatos que uma vez que você zera, dificilmente vai ter gás pra repetir a campanha. Felizmente, ainda tem muito o que fazer no jogo.
X & Y foram os primeiros que me fizeram me dedicar ao competitivo e eu me diverti, mas confesso que não me importaria de ter algo além de batalhar Treinadores repetidamente em alguma instalação dedicada a isso e completar a Pokédex de novo como todo jogo. Ainda assim, eles pareciam incompletos. Era como se clamassem por uma terceira versão. Afinal, como assim megaevolução surge em Kalos e NENHUM Pokémon nativo da região é capaz de megaevoluir? E os diversos mistérios e pistas deixadas sobre coisas que deram em nada? Não tivemos Z, mas tivemos Omega Ruby & Alpha Sapphire, os tão aguardados remakes.
Foi triste ver uma experiência que começou quase arrancando lágrimas de emoção se tornar uma decepção sem fim. Heart Gold & Soul Silver haviam sido um exemplo tão maravilhoso de como se fazer um remake perfeito que foi vergonhoso ver como Omega Ruby & Alpha Sapphire acabou sendo a exata definição do que não se fazer. Ridiculamente fácil e muito mais linear que os originais - com direito a May/Brendan te teleportando para todo canto pra te poupar o trabalho de fazer aquela coisa cansativa chamada jornada, sabe -, o jogo removia todo mínimo resquício de desafio (você nem precisava mais se dar ao trabalho de fazer Pokéblock!). Era triste também ver pequenas adições de Emerald, como o número aumentado de Treinadores ou revanches contra os Líderes de Ginásio, serem completamente esquecidos! E eu nem quero entrar no mérito da Battle Frontier…
O pior é que, com o Exp. Share, mega evolução (Latios e Latias dado de BRINDE pra você logo no começo do jogo) e o PokéNav Plus, toda essa facilitação era desnecessária já que o jogador recebia de mão beijada Pokémon poderosos com facilidade! Mas os jogos não foram de todo ruim e trouxeram além de personagens novos maravilhosos, aprofundou a mitologia do universo Pokémon, nos deu cutscenes deslumbrantes, teve um bocado de coisa bacana pós-jogo (Contest Spectaculars também sofreram com a facilitada, mas estavam lá com Lisia linda, e tinha as Super Secret Bases) e tornou a experiência de caçar monstros extremamente deliciosa - além de incorporar todos os elementos bacanas de X & Y e nos permitir voar sobre Hoenn MELHOR COISA.
E aí veio Sun & Moon! Quando foram anunciados, eu fiquei muito empolgado. A ideia de um novo esquema que não envolvia batalhas de Ginásio me intrigava, a região era visualmente deslumbrante e tinha features como Poké Pelago, que parecia uma série de minigames que você podia jogar com os Pokémon do Box, a Festival Plaza lembrava a icônica Join Avenue e ainda tinha o PokéFinder, que era basicamente anunciado como um Pokémon Snap dentro da jornada. Infelizmente, nenhum desses features fez um terço do que eu esperava que fossem fazer.
Poké Pelago é tipo um minigame de jogo de celular na qual você clica e espera horas pelos resultados com pouca ou quase nenhuma interação fora isso. O PokéFinder é frustrante de tão absurdamente limitado e a recompensa para atingir o surreal nível máximo da câmera é uma mixaria comparada ao esforço gasto e ao pequeno número de Pokémon para se fotografar. Além disso, eu de verdade esperava algo completamente diferente do sistema de avaliação de fotos - algo como seus amigos avaliando suas fotos e não notas geradas automaticamente. E a Festival Plaza é um grande embuste que só tornou a interação online mais complicada e inventou essas missões coletivas que rendem tipo uma Poké Bola do Kurt dá licença né Game Freak. Além disso, os novos jogos não contavam com o PPS nem com o Super Training nem com uma versão moderna do PokéNav Plus (mesmo que fizesse TODO sentido dentro de Alola) nem dava pra andar de patis nem de andar sorrateiramente nem cena alguma em 3D. Sem contar que Movimentos Z são lindos, mas uma funcionalidade que cansa fácil. Mas o Poké Ride pelo menos foi perfeito… até que você lembra que o Charizard é só um Fly de luxo e não chega nem perto da experiência proporcionada pelos Mega Lati@s mortes da criatividade.
Assim como X & Y, Sun & Moon oferece nada para se fazer depois de terminar o jogo a não ser completar a Dex de novo e vencer a instalação de batalhas consecutivas para conseguir as mega pedras que você ganhava de graça antes. Ah e teve o Battle Royal, mas conheço ninguém que investiu nisso? Pior ainda foi descobrir todos os dados de Pokémon andando e correndo disponíveis dentro dos jogos e ver que absolutamente nem o mínimo disso foi aproveitado para reviverem pelo menos parcialmente o parceiro Pokémon. E é por isso que Ultra Sun & Ultra Moon têm precisado tão desesperadamente se reafirmarem: porque não sendo sequências e sim o mesmo jogo com melhorias já sabemos que a história será linda e maravilhosa, mas e a diversão? E a jogabilidade? E as opções de se divertir quando não estiver cumprindo provas? Eu queria ter uma batalha em dupla outro dia e SIMPLESMENTE NÃO TINHA LUGAR PRA FAZER EM ALOLAAAAAAAAAA - saudades restaurantes Kalosianos!
É por isso que a lista comparando os anúncios compartilhada por Joe Merrick não faz sentido: as novidades anunciadas pela Game Freak podem ser mais numerosas postas daquela maneira, mas não possuem o mesmo peso. A Battle Frontier em Pokémon Emerald Version sozinha representou muuuuuuuuitas horas a mais de jogo, diversão e desafio: eram sete instalações de batalha, uma diferente da outra, cada uma capitaneada por um novo personagem e a gente ainda disputava 14 Símbolos lindos que eram tipo Insígnias de luxo! A Battle Frontier em Pokémon Platinum Version ofereceu uma experiência similar e ainda veio acompanha da Wi-Fi Plaza, que permitia horas de diversão entre amigos online. E o que são essas anunciadas novas áreas de Alola, que nem podem ser identificadas no mapa, perto de todos os lugares novos pra explorar que a Unova expandida de Pokémon Black 2 & White 2 Versions nos deu?
"Saiam daqui… Ele é… Ele é um monstro!!"

Pra se ter uma ideia, o site oficial de Pokémon Ultra Sun & Ultra Moon lista nove itens em "Cool Features". Desses, apenas DOIS são exclusivos de USUM: o Mantine Surf e o Alola Photo Club - ambos já meus queridinhos amei. Os outros sete são todas coisas que já vimos em Sun & Moon. Ah tem os novos Movimentos Z, mas na real eles são só cutscenes lindas que encerram batalhas rápido pronto acabou. Nada demais. Nessa quarta, dia 04, um novo vídeo de um minuto e meio anunciando os jogos foi lançado e nele temos um verdadeiro trailer épico prometendo talvez a mais grandiosa história já contada num jogo Pokémon. Mas e depois disso?
Eu ainda vou jogar Ultra Sun e me divertir e encantar com a história dos novos jogos que deve estar super maravilhosa e incrível, mas é muito triste ver um jogo reciclado pouco mais de um ano do original sendo lançado com tão pouca novidade a oferecer e o trailer mais recente desse jogo ser basicamente uma compilação de cutscenes! Amo custscenes lindas (Xenoblade Chronicles ♥), mas no fim das contas jogos são sobre a experiência do jogador atuando na narrativa e não apenas sendo telespectador. Meu sonho é que quando USUM saírem eu esteja enganado e tenhamos uma infinidade de coisas novas pra fazer e explorar e se divertir, mas a cada semana da divulgação de Ultra Sun & Ultra Moon que passa tudo que a Game Freak parece oferecer é mesmo um balde de água fria.

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