terça-feira, 25 de julho de 2017

Um Olhar Sobre a Narrativa de Pokémon Sun & Moon - Parte 3: A Família que Conquistou Alola

Um Olhar Sobre a Narrativa de Pokémon Sun & Moon - Parte 3

Em sua jornada para tornar as tramas dos jogos cada vez mais profundas, a Game Freak decidiu nos dar personagens misteriosos com os quais o jogador se encontraria ao longo de sua jornada e seria exposto a reflexões por eles feitas. Esses personagens possuíam ideais próprios e visões de mundo particulares, algumas com as quais o jogador até poderia se identificar, mas radicais demais para serem apoiadas. O primeiro passo nessa direção foi com Cyrus em Pokémon Diamond & Pearl Versions. Antes de ser formalmente revelado como o líder da Equipe Galáctica, ele é apresentado como um homem que rejeita as discórdias e conflitos do mundo. O problema é que, na visão de Cyrus, a solução para acabar com esses conflitos seria a eliminação das emoções, que ele considerava as grandes causadores do problema. Pokémon Platinum Version expandiu sua participação, lhe deu mais falas e explicou melhor sua história, que envolvia até rejeição por parte dos pais os quais ele nunca foi capaz de agradar e um avô que lamenta não tê-lo acolhido quando ele mais precisou.
Entretanto, foi com Pokémon Black & White Versions que esse tipo de personagem ganhou o grande destaque que merecia. N tinha uma participação muito maior e, apesar de ser o rei da equipa vilã de Unova, a revelação de que ele estava apenas sendo manipulado e usado por Ghetsis e sua eventual mudança de lado o tornou um personagem ainda mais complexo e menos maniqueísta e niilista que Cyrus. Pokémon X & Y seguiram a tradição com Lysandre e AZ. Enquanto Lysandre se aproximava mais de Cyrus (o empresário que quer mudar o mundo de forma radical), AZ se aproximava mais de N (como o personagem cujo nome é apenas letras do alfabeto aquele que entende que cometeu um erro e precisa redescobrir como se relacionar com Pokémon). Porém, tanto AZ quanto Lysandre soaram como repetições sem o mesmo peso dos seus antecessores - mesmo que o reencontro de Floette e seu antigo companheiro tenham me feito chorar na cena final de X & Y e no último episódio de Pokémon Gerações.

Pokémon Star
Pokémon Sun & Moon não apresentaram nenhum homem poderoso carregando crises existenciais ou desejos de grandeza. Em vez disso, eles nos deram uma garotinha. Em vez de alguém que já foi completamente danificado por traumas do passado, eles nos deram uma menina que ainda está vivendo sua infância difícil. No primeiro texto que eu fiz sobre a fase Sun & Moon do anime, eu cheguei a comentar como o anime raramente tratava seus protagonistas como crianças. Infelizmente, o mesmo problema ocorre com frequência nos jogos da série. A maioria dos seus personagens juvenis é capaz de ir ao espaço, impedir genocídios e catástrofes a nível cósmico, mas não precisa enfrentar problemas que crianças no mundo real precisam enfrentar, como inseguranças, o superprotecionismo dos pais, os medos que se acumulam com a chegada das responsabilidades, conflitos geracionais, abuso de autoridade, entre outros.
Há, porém, duas exceções notáveis: Wally em Pokémon Ruby & Sapphire Versions e remakes e Bianca em Black & White e sequências. Enquanto o primeiro some por grande parte da aventura fazendo um retorno triunfal no final, Bianca consegue um pouco mais de desenvolvimento, com o ápice sendo o confronto com seu pai na Cidade de Nimbasa. Assim como Wally e Bianca, Lílian é uma jovem que começou sua jornada fugida de casa. Porém, enquanto seus antecessores saíram de casa determinados a serem Treinadores Pokémon, o objetivo de Lílian era um pouco mais nobre: salvar o pequeno, misterioso e frágil monstrinho conhecido como Nebby (Nebulino, no Brasil).
Enquanto os outros dois assumiam o papel de rivais e tinham suas histórias reveladas logo de início, Lílian era cercada de mistérios e suas conexões com outros personagens-chave de Alola são reveladas à medida que a história avança. A evolução da personagem de misteriosa assistente incapaz de defender a si mesma e a Nebby - apesar de sua notável capacidade de carregar uma bolsa pesando mais de mil quilos indicar o contrário =P - para aquela que é verdadeiramente a grande protagonista da trama é referenciada pela própria garota, quando esta diz que sua transformação é sua "forma com poder Z". Mas Lílian não teria chegado onde chegou se não fosse pela sua família.
"Ei, espera! Vocês são tudo família?"

Prólogo Familiar
No texto anterior, eu elogiei como há uma preocupação em tornar cada um dos coadjuvantes de Alola um personagem tridimensional: eles são compostos por fatores físicos, sociais e psicológicos. Parte dessa construção passa pelo fato de os capitães e Kahunas terem casas e familiares (ou não). Dessa forma, nada mais apropriado que a trama principal do jogo gire em torno justamente de uma família. Para quem não entende muito inglês ou simplesmente não se aprofundou na história por falta de interesse, um breve resumo pode ajudar.

Era uma vez um belo casal que se amava muito: Mohn e Lusamine (Samina, no Brasil). Mohn era um Professor Pokémon e, tendo se mudado para a região de Alola, foi o primeiro pesquisador a fazer uma publicação formal sobre a existência dos Ultraburacos de Minhoca e das Ultracriaturas que os habitavam, provando que as antigas lendas de Alola eram realidade. Durante uma tentativa de se conectar a um Ultraburaco de Minhoca, Mohn desapareceu misteriosamente, deixando para trás apenas um Cosmog enfraquecido - Nebby - e sua pesquisa sobre a Ultracriatura Nihilego. Além da esposa, o Professor Pokémon também deixou dois filhos sem pai: Gladio e Lílian.
Após o desaparecimento do marido, Lusamine decidiu seguir em frente com sua pesquisa de forma intensiva. Como Presidente da Fundação Aether, Lusamine passou a orientar os esforços da entidade filantrópica em duas frentes: descobrir como fazer o Pokémon Nebulosa Cosmog abrir os Ultraburacos de Minhoca e preparar uma arma para combater as Ultracriaturas. Em contrapartida, sua relação com seus filhos apenas se deteriorava. O que antes era uma relação que envolvia carinho e compaixão, foi aos poucos se tornando um convívio de abusos à medida que seus filhos não concordavam com como sua mãe pretendia machucar Pokémon no processo para conseguir o queria.

Para auxiliá-la nesse processo, ela teve Faba (Fábio, no Brasil), o Diretor da Fundação Aether, como seu braço direito. O cientista dedicou-se a desenvolver armas para combater e capturar as Ultracriaturas, como as Bolas Criaturas (um projeto iniciado, na verdade, por seu predecessor - Mohn?) e o Mata-Criaturas Tipo Pleno (Type: Full). Inspirado nos mitos do Pokémon Alfa Arceus, o Pokémon Sintético recebeu células de todos os Tipos de Pokémon para que pudesse trocar o seu próprio Tipo quando exposto aos diferentes discos de Memória ao qual fosse exposto, tornando-se assim a arma perfeita para combater as Ultracriaturas. Todavia, os três indivíduos criados pela Fundação Aether se provaram incapazes de se ajustar ao Sistema RKS e ficaram fora de controle. Considerados um fracasso, cada um dos três recebeu uma máscara de contenção cada e eles foram postos em suspensão criogênica, sendo eventualmente rebatizados de Tipo Nulo (Type: Null).

Incomodado com o quanto sua mãe havia se tornado controladora, sua obsessão crescente com as Ultracriaturas e o sofrimento ao qual os Tipo Nulo foram submetidos, Gladio decide que precisa agir. Contando com a ajuda de Wicke (Lara, no Brasil), a Diretora-assistente da Fundação Aether que discordava dos experimentos de Lusamine, o garoto rouba um dos Tipo Nulo para ser seu Pokémon e foge de casa para nunca mais voltar. Mas o fracasso do Mata-Criaturas e a fuga de seu filho não são o suficiente para fazer Lusamine mudar de ideia. Para ficar de olho no menino, ela se torna a benfeitora da Equipe Skull, fazendo com que a gangue de desordeiros trabalhasse pra ela e ainda contratasse Gladio como uma espécie de guarda-costas - dando-lhe inclusive estadia fixa no Hotel de Beira de Estrada na Rota 8, na Ilha Akala.
Nos dois anos seguintes, a Presidente da Fundação Aether se dedicou a tentar arrumar uma forma de explorar o poder de Cosmog (ainda que isso lhe causasse grande sofrimento) para abrir os Ultraburacos de Minhoca - mesmo sem o Mata-Criaturas. Ela até recorre às lendas de Alola e consegue uma Flauta do Sol (ou da Lua, dependendo da versão) para invocar o Pokémon Lendário de Alola e obtém uma Bola Mestra para pegá-lo. Percebendo que a vida de Nebby ainda corria grave risco e sendo submetida a abusos psicológicos constantes, Lílian também conclui que é a sua hora de partir. Ela também é secretamente auxiliada por Wicke, que a instrui a procurar a Professora Burnet (Bruna, no Brasil).
"Nós cuidamos de Pokémon que foram alvos da Equipe Skull aqui"

Durante a fuga, a garota é quase interceptada pelos funcionários da Fundação Aether, mas antes que possam alcançá-la, Nebby usa seu poder para Teletportá-los para fora do Paraíso Aether. Os dois acabam indo parar desacordados numa praia, onde são encontrados justamente pela Professora Burnet. Após ouvir a história dos dois, a especialista na relação entre Pokémon e outras dimensões concorda em ajudá-los e a descobrir mais sobre Nebby. O marido de Burnet, o Professor Nogueira, aceita dar a Lílian um lugar pra ficar e a torna sua assistente. Três meses depois, o jogador chega à região de Alola…

Evolução a olhos vistos
Quando conhecemos Lílian, tudo o que sabemos é que ela é uma garota um pouco introvertida que não treina Pokémon porque não concorda com as batalhas. Além disso, sua maior preocupação é cuidar e proteger o indefeso Nebby que ela carrega com zelo em sua bolsa e tenta, em vão, manter escondido. Além disso, ela conta com um suprimento infinito de Repelentes para andar na grama alta sem ser atacada por Pokémon selvagens. Além de auxiliar o Professor Nogueira, Lílian também vira um aliada do jogador, ajudando-o em seu desafio da ilha e também aproveitando a oportunidade para tentar descobrir mais sobre Cosmog visitando cada uma das ruínas onde vivem os deuses guardiões das ilhas e estudando as lendas de Alola.
Ao longo da aventura, Lílian vai acompanhando a jornada do jogador em seu desafio, visitando lugares interessantes, desvendando um pouco mais da história e da mitologia da região de Alola, conhecendo pessoas que marcam sua vida, como Hapu (Lélia, no Brasil), e passa por situações perigosas. Todas essas experiências vão fazendo com que ela não apenas amadureça, mas também amplie sua visão de mundo.
Quando a Equipe Skull vem à Casa Aether na Rota 15 para sequestrá-la a mando de Lusamine, Lílian decide bravamente se entregar para que ninguém mais se machuque e usa a oportunidade para finalmente confrontar sua mãe. Não obtendo sucesso, - mesmo quando auxiliada por Gladio, Hau (Hibi, no Brasil) e o jogador - Lílian sofre ofensas e mais abusos de sua progenitora (extremamente ressentida pelo abandono de ambos os filhos), testemunha o poder de Nebby sendo usado para abrir múltiplos Ultraburacos de Minhoca sobre Alola e vê sua mãe desaparecendo para dentro do Ultraespaço. E é diante desse cenário desesperador que ela encontra sua verdadeira força!

A força para se impor
De repente, o desafio da ilha é interrompido e o foco se volta completamente para a missão de resgate de Lusamine e Nebby. Assim, ainda que Lílian não seja uma personagem jogável, os roteiristas têm o cuidado de fazer com que a trama avance totalmente orientada para a necessidade da personagem. É ela quem recebe primeiro uma das flautas necessárias para invocar o Pokémon Lendário de Alola que dizem ser capaz de abrir o portal para o outro mundo. É por causa do forte vínculo que Hapu e Lílian criaram que vemos a jovem de Poni sendo nomeada Kahuna por Tapu Fini. É com ela que vamos à Ilha Exeggutor pegar a flauta que falta e atravessamos o Grande Desfiladeiro de Poni até o Altar Solar (ou Lunar, dependendo da versão) para invocar o Lendário. Lílian é tão protagonista que era até justamente em sua bolsa que o Pokémon Lendário estivera o tempo todo e mesmo depois que atravessamos para o Ultraespaço e batalhamos a terrível versão de Lusamine fundida com Nihilego, o verdadeiro confronto é aquele entre mãe e filha!
"N-nos ajude! Por favor, Lunala!"

É surpreendente ver um jogo Pokémon colocando mãe e filha se enfrentando de forma tão forte num título voltado para crianças. O discurso de Lílian contra Lusamine não se restringe a falar do quão errado é maltratar Pokémon ou ameaçar o mundo ou sobre seu direito de partir numa jornada Pokémon e esses tópicos meio abstratos sobre os quais essas tramas principais costumam ser, mas sobre um problema familiar com o qual muitas crianças podem se identificar: abuso. Assim como Lusamine, muitos pais do mundo real usam sua posição para oprimir e humilhar filhos só porque estes os contrariam ou contrariam suas expectativas sobre eles. A dor que a mãe sentira por ter perdido seu marido também foi compartilhada pelos filhos, que perderam o pai. Ainda assim, Gladio e Lílian não deixaram que essa dor anuviasse seu julgamento e fizesse com que eles apoiassem os maus-tratos aos Pokémon que Lusamine estava disposta a fazer para ir ao Ultraespaço.
Há um empoderamento também na atitude de Lílian. Tanto ela quanto Gladio afirmam terem se tornado objetos nas mãos da mãe, que queria manipulá-los conforme sua vontade. Porém, é Lílian quem a desafia dizendo de forma poderosa que "crianças não são coisas que pertencem aos seus pais!". Eles possuem vontades próprias, sentimentos próprios, necessidades próprias. Para arrasá-la, Lusamine tenta minar justamente a autoestima de sua filha - da mesma forma que Ghetsis fizera com N em Pokémon Black & White. Ela ataca sua aparência física, usa de chantagem emocional (ao declarar que por "abandoná-la", nem ela nem Gladio eram seus filhos mais), sua incapacidade de se tornar uma Treinadora Pokémon e sua falha em convencê-la a mudar de ideia. Estratégias que muitos pais do mundo real usam para oprimir e reafirmar controle sobre seus filhos.
Mas nada disso é eficaz para diminuir a garota. Ela se permite apenas uma noite de lamento "na cama que um dia ela compartilhou com sua mãe quando pequena" antes de reunir suas forças para ir salvá-la. E mesmo sem ser uma Treinadora Pokémon, com a ajuda de seus amigos, ela é capaz de resgatar sua mãe. O mais bonito é ver que, mesmo depois de tudo pelo que sofrera, Lílian não deixou de amar Lusamine. Vê-la decidindo partir numa jornada para se tornar uma Treinadora Pokémon e poder descobir uma forma de ajudá-la a se recuperar dos efeitos colaterais de sua fusão com Nihilego é uma progressão natural de sua caminhada e uma que seria um deleite acompanhar em uma sequência, spin-off ou até mesmo DLC se a Game Freak fosse a favor de deixar seus jogadores felizes.

A fascinante Lusamine 
Depois de uma sucessão de líderes de organizações criminosas do sexo masculino, Lusamine se torna a primeira grande vilã da série principal e, talvez por isso, ela seja tão peculiarmente diferente de seus predecessores. Diferente de Giovanni, ela não visa obter lucro nem controle através de Pokémon. Diferente de Archie, Maxie, Cyrus e Lysandre, ela não quer remodelar o mundo como o conhecemos. Diferente de Ghetsis, ela não quer privar cidadãos de terem Pokémon para então dominá-los. Diferente de Guzma, ela não quer perturbar a paz dos cidadãos de Alola. E diferente de todos eles, Lusamine não tenta ganhar suporte popular através de discursos imponentes que convencem jovens influenciáveis. Ela nem sequer tem uma organização criminosa pra começar (embora ela use a Equipe Skull a seu favor)! Todos os seus planos são conduzidos com a ajuda dos poucos cientistas de sua confiança da Fundação Aether.
"Eu serei como uma mãe para todos aqueles pobres Pokémon e vou enchê-los de amor"

Diferente dos seus predecessores, Lusamine não age por pura ganância ou vaidade. Suas ações são motivadas puramente pela dor da perda e elas vão mudando conforme essas perdas vão aumentando. A criação da forma de vida Anti-UC é motivada pelo desejo de recuperar seu marido. Afinal de contas, se ele desaparecera ao abrir um Ultraburaco de Minhoca dentro de seu laboratório, era possível que ele tivesse sido abduzido por uma das temíveis Ultracriaturas. Portanto, ela tinha uma missão de resgate e precisaria de Pokémon poderosos para enfrentar as temíveis criaturas do Ultraespaço. O excesso de autoridade sobre seus filhos pode ter vindo também como uma forma equivocada de achar que, forçando controle sobre eles, ela conseguiria mantê-los por perto por mais tempo e não os perderia. O maior problema é que, em seu desespero e angústia, ela perdeu a perspectiva.

Com o fracasso de Tipo Nulo e a eventual fuga de seu filho, Lusamine se sente traída ao perceber que nem mesmo aqueles que compartilharam da mesma dor que ela conseguem entender seus sentimentos. Quando Gladio foge, levando um Tipo Nulo consigo, Lusamine sente o golpe de uma segunda perda e aqui é que seus planos mudam. De repente, o mundo em que vivemos não parece bonito o bastante. É um mundo em que ela não tem mais seu marido e seu filho a abandona. Sua obsessão pelo Ultraespaço ganha um novo contorno e se torna uma espécie de fuga deste mundo que só lhe causa dor. É justamente o medo de sofrer outras perdas que motiva Lusamine a congelar sua própria coleção particular de Pokémon para "preservá-los por toda a eternidade". Assim eles não podem fugir nem desaparecer de sua vista.
E as coisas só pioram quando sua última família, sua caçula, decide se rebelar contra ela. De repente, a garotinha que sempre vestia as roupas que ela escolhia, que dormia com ela, que lhe tinha na mais alta estima, também repreende seus atos. É aí que Lílian se torna "feia" aos olhos de Lusamine e a mãe passa a buscar uma nova filha para si, fazendo de Nihilego sua nova obsessão. Afinal de contas, essa era a criatura que seu marido pesquisava no dia em que desapareceu. Uma criatura simbionte que não só tinha o contorno e as cores que lhe lembravam de sua filha fugida, como também dizia-se imitar o jeito de um garota.
Nihilego passou a representar esperança para Lusamine. A esperança de reencontrar o marido. A esperança de que, ainda que não o encontrasse, ao menos teria algum ser que precisaria dela, se uniria a ela de forma definitiva. Ainda que ela fosse incapaz de rever Mohn, ela finalmente deixaria este mundo e teria companhia, uma com a qual ela poderia se unir para jamais se separar de novo. É por isso que, após entrar no Ultraespaço e permitir que Nihilego se funda com ela, Lusamine declara que tudo que existe no mundo das Ultracriaturas é o amor que ela e Nihilego compartilham.
O coração de Lusamine só consegue encontrar paz depois de perceber que Lílian não lutava contra ela a troco de nada, mas havia ido atrás dela no Ultraespaço justamente por amá-la. Ao cair derrotada e se deparar com sua filha, na verdade preocupada com ela, Lusamine pergunta "Quando você… começou a ficar bonita?". Obviamente não é uma pergunta sobre beleza e na verdade não foi Lílian que começou a ficar bonita, foi Lusamine que demorou a perceber que na verdade seus filhos não se preocupavam apenas com os Pokémon que queriam salvar, mas também com a mãe que eles queriam resgatar de uma obsessão doentia.

Mas e o Mohn?
Apesar de nos oferecer informação sobre o passado de Mohn e sua família, Pokémon Sun & Moon não dão explicação alguma sobre o homem que começou tudo. O que sabemos sobre seu estado atual é que atualmente ele gerencia o Poké Pelago, mas mil perguntas ficam no ar: como ele voltou do Ultraespaço? Por que ele nunca entrou em contato com sua família? Embora abandono de pais seja uma temática recorrente em Pokémon, talvez este não seja exatamente o caso do pai de Lílian e Gladio e a pista esteja na trama pós-jogo envolvendo Looker e Anabel.
Durante a missão de pegar as Ultracriaturas liberadas no nosso mundo, somos apresentados ao conceito de Faller. Ocorre que quando um humano atravessa um Ultraburaco de Minhoca, ele acaba sendo banhado da energia residual do portal. Portanto, quando um humano volta ao nosso mundo do Ultraespaço, ele possui muito dessa energia residual impregnada no corpo. Ultracriaturas que atravessam o portal para o nosso mundo se tornam agressivas e ficam desesperadas para voltar para casa e como Fallers exalam a mesma energia dos Ultraburacos de Minhoca, as UC são atraídas para elas, acreditando que sejam portais.
Em Sun & Moon é revelado que dez anos atrás, Anabel, a Donzela do Salão da Torre de Batalha da Batalha da Fronteira de Pokémon Emerald Version, foi encontrada desmemoriada pela Polícia Internacional. Após análise, foi descoberto que havia uma enorme quantidade de energia residual do Ultraespaço em seu corpo, indicando que ela passara tempo demais na outra dimensão. Um dos motivos para Looker entrar em contato com o jogador é justamente o fato de este também ser um Faller, por causa de sua experiência no Ultraespaço. Sendo assim, Lílian, Lusamine e Guzma também seriam Fallers… e também Mohn! Se o motivo de Anabel se lembrar nada além do seu nome e de que defendia uma torre em algum lugar tenha sido seu longo tempo no Ultraespaço, talvez Mohn tenha passado pela mesma situação. E se o ex-cientista conseguiu sair da outra dimensão, mas seu longo período lá lhe custou sua memória? Isso explicaria muita coisa. Mas seria terrível se ele se lembrasse e tivesse feito a escolha consciente de nunca voltar, não é mesmo? Infelizmente, isso é tudo que podemos especular no momento e esperar que Pokémon Ultra Sun & Ultra Moon nos tragam algumas respostas sobre o misterioso homem do chapéu de palha.

P.S.: Pokémon Ultra Sun & Ultra Moon confirmaram que Mohn, de fato, perdeu sua memória e ainda promoveu um reencontro entre ele e Lusamine. Apesar de sempre ter esperado por esse momento, Lusamine - agora uma vilã de araque - decide deixar as coisas como estão e não revelar nada do passado para ele ao perceber que seu antigo marido está, na verdade, muito feliz.

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