sábado, 30 de janeiro de 2016

Os Jogos Pokémon: A Trajetória de um Fenômeno Mundial - Parte 1

Os Jogos Pokémon: A Trajetória de um Fenômeno Mundial - Parte 1

Como um hobby se torna uma marca bilionária
Este ano Pokémon comemora 20 anos! O sucesso que Pikachu e cia atingiu, porém, jamais foi esperado. Muito pelo contrário: a franquia surgiu em jogos muito bugados, de estética pouco atraente e baixo orçamento. Ainda assim, os monstros de bolso conseguiram cativar fãs ao redor do mundo todo, foram responsáveis por uma grande febre na virada do milênio e conseguiram mostrar que não eram só uma mania passageira, mantendo seu sucesso e relevância no mundo por duas décadas! Os números falam por si só: ao todo, já são mais de 80 títulos de jogos para os mais diversos consoles e portáteis da Nintendo, fliperamas (ou arcades, se preferir) e até dispositivos como tablets e smartphone, tendo sido vendidos mais de 270 milhões de unidades em todo o mundo - e isso até maio do ano passado!

A série animada estrelada por Ash é um dos desenhos mais assistidos no Japão até hoje e já soma mais de 900 episódios, quase 50 especiais e curta-metragens relacionados, 18 filmes de longa-metragem e 10 curtas para cinema, exibidos em mais de 70 países. Também já foram lançadas, ao todo, quase 15 bilhões de estampas ilustradas - que somam mais de 21,5 bilhões de unidades vendidas, e mais de 30 títulos de mangás no Japão, sendo o mais popular deles, Pocket Monsters Special, publicado até hoje e exportado para vários países, rendendo mais de 50 volumes! Isso sem contar os demais produtos que a franquia vende, como bonecos, pelúcia, chaveiros, peças de vestuário, CDs, DVDs, blu-rays, jogos de tabuleiro entre outros brinquedos, livros e mais uma infinidade de produtos! Porém, neste texto em especial focaremos naqueles que ditam o rumos da franquia e são os principais pela manutenção e renovação da vida de Pokémon nesses 20 anos: os jogos.

A história dos jogos Pokémon está pessoalmente atrelada à história de seu criador, Satoshi Tajiri. O Japão em que o jovem Satoshi cresceu era muito diferente do Japão urbano como o conhecemos (ou não) hoje em dia: era um país bem mais rural, eu que as crianças tinham o comum hábito de colecionar insetos, especialmente besouros, e colocá-los para lutar entre si. Mais tarde, com a urbanização do local em que morava, Satoshi Tajiri começou a se interessar por videogames e fliperamas. Em 1982, ele e seus amigos, em especial Ken Sugimori, formaram um fanzine (uma revista feita por fãs) e batizaram-na de Game Freak, algo como "obcecado por games" em inglês, que gozava de modesta popularidade entre os jogadores do Japão.
Posteriormente, Tajiri ficou mais interessado em criar jogos e em 1987, lançou seu primeiro título: Mendel Palace. Dois anos depois ele fundou a empresa Game Freak, nomeada assim em homenagem à sua fanzine. Nos anos posteriores, a Game Freak continuou a produzir jogos tanto para a Sega quanto para a Nintendo, até que Satoshi Tajiri viu dois jogadores interagindo com seus Game Boy através de um cabo link e imaginou dois insetos cruzando de um aparelho para o outro através do cabo. Tajiri começou a pensar em como seria se as crianças dos anos 90 pudessem experimentar a sensação de colecionar insetos, como ele havia feito em sua infância, e interagir umas com as outras e aí nasceu o conceito para Pokémon, originalmente chamado de Capsule Monsters - os monstrinhos seriam os CapuMon!
Logo que apresentou o conceito para a Nintendo, Tajiri não foi completamente compreendido, mas recebeu um pontapé inicial para a produção dos jogos e foi apoiado pela Creatures, Inc. e teve Shigeru Miyamoto - o homem por trás de outras franquias de sucesso da Nintendo como Mario, Metroid e The Legend of Zelda - designado para acompanhá-lo no desenvolvimento dos jogos. Ao longo dos seis anos que demoraram para serem desenvolvidos, muita coisa mudou. Os conceitos originais de Satoshi Tajiri foram adaptados para comunicarem melhor com o público infantil e o nome Capsule Monsters teve que ser alterado para Pocket Monsters para evitar problemas com direitos autorais. Miyamoto também contribuiu com ideias cruciais, como a de dividir o jogo em diferentes versões e cada uma possuir Pokémon exclusivos, que tornaria o elemento de interação do cabo link vital para que o progresso do jogo fosse completado. A ideia original era até de dividir o jogo em sete versões - uma para cor do arco-íris (já observaram como os jogos originais têm cores como temática? Todas as Insígnias na versão japonesa carregavam os nomes de suas respectivas cores e a cidade onde o jogo é começa é a Cidade de Pallet, paleta de cores em inglês)! Mas devido a problemas de desenvolvimento, falta de dinheiro, entre outros, o jogo pôde ser lançado inicialmente em apenas duas versões: Red e Green.
Todavia, não havia grandes expectativas para a criação do sr. Tajiri: o Game Boy já estava no fim de sua vida útil e a Nintendo não apostava muito nos monstros de bolso. Quando Pocket Monsters: Red & Green finalmente chegaram às lojas japonesas, em 27 de fevereiro de 1996, as vendas se provaram bastante modestas, nenhuma surpresa. A mudança veio nas semanas que se seguiram: diferente da maioria dos grandes lançamentos que começam bombando e vão perdendo força ao longo das semanas, Pokémon via suas vendas aumentarem cada vez mais! As crianças iam sendo paulatinamente cativadas pela ideia de colecionar os monstrinhos e o fato de o Game Boy ser barato também ajudou a tornar ambas as versões populares.
Vendo ali um novo potencial, a Nintendo decidiu dar novo valor à marca e mandou a Game Freak lançar uma nova versão. Pocket Monsters: Blue chegou em outubro daquele mesmo ano, inicialmente exclusivo para assinantes da CoroCoro, apresentando diversas melhorias técnicas (melhores gráfico, engine, som) e o conserto dos bugs presentes nas versões originais. Nos anos seguintes, os jogos só viram seu sucesso aumentar. O anime estreou no Japão em abril de 1997, dando gás à febre dos monstros do bolso que se instaurava! A franquia já havia se tornado algo tão grande e com tanto poder capital que a Nintendo, a Game Freak e a Creatures, Inc. se juntaram para fundar a The Pokémon Company, que ficaria responsável por lidar com os licenciamentos de produtos da marca dentro e fora do Japão. Com o sucesso estabelecido no Japão, a Nintendo decidiu que era hora de tentar expandir o sucesso para além-mar e dar a mais crianças a chance de desbravar a região de Kanto - embora ela ainda não fosse ser batizada até a II Geração - em busca de Pokémon!

Para além-mar
A chegada aos EUA seria menos sutil e melhor planejada do que o lançamento no Japão havia sido. O nome Pocket Monsters teve que ser abandonado - ironicamente para evitar problemas de patentes nos EUA - para dar lugar a Pokémon e a Nintendo fez dois jogos para o lançamento ocidental: Pokémon Red & Blue, unindo elementos das três versões japonesas: do Red & Green originais vieram a distribuição dos Pokémon, enquanto todos os aspectos melhorados da versão Blue foram utilizados nessas duas versões, inclusive o script para a tradução. O anime e diversos outros produtos que levavam o nome da marca foram licenciados com diferentes empresas e distribuidoras para um grande lançamento simultâneo. Pokémon Red & Blue chegaram com tudo no mercado ocidental em 28 de setembro de 1998, fazendo um sucesso explosivo e fortalecendo ainda mais o nome da marca! Pokémon Red & Blue Versions venderam, combinados, o impressionante valor de mais de 31 milhões de cópias em todo o mundo.
Paralelamente, no Japão a franquia só se expandia! Um grande elemento dos jogos de Game Boy era a possibilidade de usar os Pokémon capturados em batalhas usando o cabo link. Desenvolvido pela Nintendo e pela HAL Laboratory (primeiro trabalho desta com os monstros de bolso), Pokémon Stadium chegou para o Nintendo 64, dando aos jogadores a chance de ver seus Pokémon renderizados em 3D pela primeira vez! Com a possibilidade de transferir seus monstros do Game Boy para o título de N64 usando o Transfer Pak, o título foi um grande sucesso, mas pecava por permitir que apenas 42 Pokémon fossem usados nas batalhas!
Pouco mais de um mês depois, a Game Freak presenteava os fãs com mais um título de sua paleta de cores: Pokémon Yellow Version: Special Edition Pikachu (Pocket Monsters: Pikachu, no Japão)! Os jogadores desta vez fariam sua jornada mais ao estilo de Ash e teriam um Pikachu como seu Pokémon inicial lhe seguindo fora da Pokébola, entre outras novidades inspiradas no anime, como a oportunidade de enfrentar Jessie, James e Meowth da Equipe Rocket! O ano de 1998 também testemunhou o lançamento de ainda outros dois outros títulos: Hey You, Pikachu! - desenvolvido pela Ambrella para o Nintendo 64 - que permitia ao jogador interagir com Pokémon através de reconhecimento de voz usando um microfone, e Pokémon Trading Card Game - desenvolvido pela Hudson Soft para a estreia da franquia no Game Boy Color - que trazia as cartas das estampas ilustradas para duelos no portátil!

A expansão
Em 1999, a febre no Japão seguia firme e forte, inflamada por vários lançamentos impactantes! O ano já começou bem com o lançamento de Super Smash Bros. em janeiro. Reafirmando a grande importante da franquia para a Nintendo, os Pokémon Pikachu e Jigglypuff foram convidados para se juntar ao grupo de combatentes de diferentes jogos da empresa para digladiarem em combates insanos - com outros 13 participando através de Pokébolas! E essa foi só a primeira das três bombas da desenvolvedora naquele anoEm março, chegou ao Nintendo 64 o popular Pokémon Snap, no qual você encarnava o fotógrafo Todd Snap em sua missão de capturar os Pokémon em filme em seu habitat natural para o Professor Carvalho! Em abril, a HAL Laboratory atacou de novo com Pokémon Stadium 2: desta vez foi possível ver todos os 151 Pokémon ganharem vida em batalhas 3D e se divertir jogando os divertidos mini-games no Nintendo 64. Também em abril, o Game Boy Color recebeu Pokémon Pinball, desenvolvido pela Jupiter Corporation. No continente americano, não foi diferente, com Super Smash Bros. chegando em abril, Pokémon Pinball em junho, Pokémon Snap em julho e Pokémon Yellow Version em outubro. Pokémon Pinball vendeu mais de 5,31 milhões de unidades, Pokémon Snap mais de 3,63 milhões, enquanto Yellow vendeu mais 14,64 milhões de cópias.
Porém, o ano de 1999 ainda guardava algo ainda mais explosivo para os jogadores japoneses: Pocket Monsters: Gold & Silver! Originalmente intitulados Pocket Monsters 2: Gold & Silver e com lançamento previsto para o final de 1997, os títulos só foram chegar ao Game Boy Color dois anos depois, em novembro de 1999. E, felizmente, a longa espera compensou! Os novos títulos da Game Freak não só apresentaram uma nova geração de monstros de bolso na região Johto, como também trouxeram diversas inovações que seriam incorporadas aos demais jogos: a contagem do tempo, divisão entre sexos e a possibilidade de cruzar Pokémon, os tipos Aço e Sombrio e ainda permitia equipar itens com seus monstrinhos para as batalhas. Tudo isso fez de Gold & Silver os eternos favoritos de muitos jogadores! Nos bastidores, Pokémon Gold & Silver também viu a ascensão de outro nome importante na trajetória dos monstros de bolso: Junichi Masuda. Parte da equipe de programação de Red, Green, Blue e Yellow - e compositor de todas as músicas desses jogos -, Masuda foi promovido a codiretor, assumindo posição de comando ao lado de Satoshi Tajiri no novo projeto e iniciando seu caminho para se tornar a nova cara da franquia internacionalmente.
Enquanto no Japão o ano 2000 foi estranhamento calmo em comparação com o bombardeio do ano anterior, os americanos ainda tiveram um pouco mais para aproveitar com Pokémon Stadium 2 (lançado como Pokémon Stadium apenas, já que o primeiro nunca saiu do Japão) saindo finalmente em fevereiro, Pokémon Trading Card Game em abril e, por fim, Pokémon Gold & Silver Versions em outubro. Setembro quebrou o jejum de lançamentos no Japão com Pokémon Puzzle Challenge, desenvolvido pela Intelligent Systems para o Game Boy Color, se tornando o primeiro spin-off a estrelar Pokémon da II Geração.
Curiosamente, em setembro era lançado outro puzzle nos EUA, também desenvolvido pela Intelligent Systems em parceria com a Nintendo Software Technology, mas para o Nintendo 64: Pokémon Puzzle League. Sendo o primeiro jogo exclusivo do mercado ocidental, Puzzle League trazia os personagens do anime para atrair especialmente o público do anime. Em dezembro do mesmo ano, Pokémon Puzzle Challenge também aportou no mercado americano. Em relação às vendas, os spin-off continuaram fazendo vendas sólidas, embora não tão altas quanto os jogos principais da franquia: Pokémon Stadium vendeu mais de 5,46 milhões de unidades, Pokémon TCG mais de 3,70 milhões e Gold & Silver, combinados, mais de 23,10 milhões, aproveitando-se  ainda do ápice da febre Pokémon!

O esfriamento
Dezembro chegou trazendo dois imensos presentes: Pocket Monsters: Crystal Version e Pokémon Stadium Gold and SilverSeguindo o padrão da geração anterior das versões aprimoradas, Crystal trouxe tudo que Gold & Silver tinham e adicionou uma trama mais elaborada com o envolvimento do lendário Suicune, animações inéditas para os Pokémon em batalha, além da possibilidade de se jogar como uma menina. Crystal também foi o primeiro jogo dirigido por Junichi Masuda, enquanto Satoshi Tajiri assumiu a posição de diretor executivo.
Pocket Monsters: Crystal Version trouxe uma grande novidade implementada pela Game Freak: a interatividade com o Pokémon Mobile System GB, um serviço online pago que permitia conectar o jogo a um aparelho celular usando o Mobile Game Boy Adapter - um cabo que ligava o videogame a certos telefones móveis compatíveis. Uma das primeiras tentativas de comunicação entre jogadores sem a necessidade de fios, o sistema possibilitava que jogadores batalhassem, trocassem Pokémon e compartilhassem informação entre si à distância, usando seus celulares. Como bônus, ele também possibilitava a captura do mítico Pokémon Celebi através de uma missão especial!
Já a mais nova obra da Nintendo e da HAL Laboratory não só trazia todos os novos Pokémon da II Geração para a batalha em gráficos melhorados, novos desafios e divertidos minigames, como também permitia que os Treinadores transferissem suas batalhas salvas no Pokémon Crystal para o Pokémon Stadium Gold and Silver usando o Pokémon Mobile System GB para poder assisti-las ganhar vida no Nintendo 64. Ambos Pokémon Crystal e Pokémon Stadium Gold and Silver - rebatizado de Pokémon Stadium 2 - chegaram ao ocidente relativamente cedo em comparação com seus predecessores, já no primeiro semestre de 2001, mas sem o Pokémon Mobile System GB já que o Mobile Game Boy Adapter nunca foi disponibilizado no mercado ocidental, deixando o público das terras do oeste sem grande parte da experiência da qual os jogadores japoneses puderam gozar. Apesar da grande popularidade entre os jogadores, Pokémon Crystal Version vendeu o pouco mais de 6,39 milhões de cópias, enquanto Pokémon Stadium 2 viu pouco mais de 2,54 milhões deixarem as prateleiras, números decepcionantes (especialmente para Crystal) em comparação com o desempenho de seus antecessores.

Outra preciosidade que não pôde ser apreciada fora do Japão foi o Pokémon Card GB2: Here Comes Team GR!. Lançado em março de 2001, esta sequência de Pokémon Trading Card Game, novamente desenvolvida pela Hudson Soft, também trouxe os desafios das estampas ilustradas para o Game Boy Color. Pokémon Card GB2 também apresentava um modo história mais desenvolvido, um mundo muito maior para se aventurar, além da possibilidade de jogar como uma personagem feminina. Ainda em 2001, a Nintendo também lançou um aparelho portátil para se jogar alguns mini-games feitos especificamente para ele: o Pokémon Mini. Tais mini-games vinham em cartuchos separados e incluíam joguinhos de corrida, estratégia, quebras-cabeças, simulação, entre outros. Curiosamente, Pokémon Mini chegou primeiro ao mercado americano, em novembro, sendo lançado no Japão um mês depois. Ao final de 2001, a febre Pokémon mostrava sinais sérios de desgaste tanto no Japão quanto nos EUA e a Nintendo sabia que era hora de agitar as coisas novamente! Com os fins das vidas úteis do Game Boy Color e do Nintendo 64 e com a chegada do Game Boy Advance e do Nintendo GameCube, era hora de abrir caminho para uma nova geração de jogos Pokémon!
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Esta matéria faz parte de um conjunto de textos que serão publicados aqui no blog com a intenção de celebrar os 20 anos de Pokémon.

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